Instalado numa quina do quarto andar do Palácio do Planalto, o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) tornou-se a face mais visível do primeiro escalão do governo. Onde houver uma encrenca, lá estará o rosto redondo do deputado sul-mato-grossense. Oficialmente, é coordenador político do governo. Na prática, atua como general sem farda da tropa do presidente. Em entrevista ao blog do Josias de Souza, Marun manifestou em voz alta inquietações sobre o futuro penal de Michel Temer — tema que auxiliares e aliados do presidente costumam abordar apenas longe dos refletores, aos sussurros.
Marun prevê que, a partir de 1º de janeiro, depois que deixar a poltrona de presidente da República, Temer será submetido a “uma grande perseguição”. O repórter indagou: Acha que Temer pode ser preso? E o ministro: “Hoje em dia qualquer um pode ser preso, principalmente no império das prisões preventivas. O meu receio é que o devido processo legal não seja observado.” Marun não é um neófito na matéria. Como deputado, foi general da tropa de Eduardo Cunha, que escorregou da presidência da Câmara para a cadeia, onde se encontra desde 2016.
Há no freezer duas denúncias criminais contra Temer. Correm no Supremo mais dois inquéritos por corrupção estrelados pelo presidente. Marun desqualifica as acusações. Parece mais preocupado com os tiros que magistrados de primeira instância e procuradores irão disparar quando tiverem acesso ao paiol. “Eu tenho esse receio porque nós temos no Brasil duas categorias profissionais, talvez as únicas, que não têm nenhuma responsabilidade sobre os seus atos: juiz e promotor.” O governo resistiria a uma terceira denúncia da Procuradoria? Se vier, será “soterrada” no Legislativo, disse Marun.
O gabinete de Marun é o mesmo que já foi ocupado por Geddel Vieira Lima, hoje hospedado no presídio brasiliense da Papuda. O ministro está separado da sala de Temer apenas por um lance de escada. Amigo de Temer há três décadas, Geddel tinha livre acesso à maçaneta do gabinete presidencial. Cristão novo no grupo de Temer, Marun ganhou a confiança do presidente pela lealdade. “A quem interessa, hoje, uma terceira denuncia?”, ele questiona. “A quem interessa paralisar novamente o Congresso, como foi paralisado no segundo semestre do ano passado?”




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