Nonato Guedes

Hoje, às 15 horas, no Salão Nobre do Senado Federal, em Brasília, ocorrerá a cerimônia de lançamento do livro “Grandes Vultos que honraram o Senado: José Maranhão”, de autoria de Francisco de Sales Gaudêncio e Eduardo Peruzzo. Será uma justa homenagem ao ex-senador que se destacou na vida pública, oferecendo valiosa contribuição ao seu Estado e ao país. Sales Gaudêncio define: “Ora tradicional, ora conciliador, outras vezes um ‘radical’, Zé Maranhão aparece entre aqueles sujeitos multifacetados que são quase impossíveis de se enquadrar numa obra completa e definitiva, sendo, por isso mesmo, muito difíceis de serem biografados”. Maranhão morreu em 2021, em São Paulo, aos 87 anos, vítima de complicações da covid-19. Ele integrou o chamado “MDB histórico”, e o livro, com 540 páginas, tem o prefácio escrito pelo ex-presidente da República Michel Temer, que foi companheiro de partido do político paraibano.

Natural de Araruna, no Brejo paraibano, José Targino Maranhão iniciou sua carreira política como deputado estadual pelo PTB em 1954, tendo sido deputado federal, duas vezes senador e três vezes governador. No livro “O voo do amor” a viúva, desembargadora Fátima Bezerra Cavalcanti Maranhão, descreve peculiaridades da jornada política do ex-governador, que ascendeu ao cargo titular com a morte de Antônio Mariz em 1995, tendo sido reeleito em 1998. Assumiu o Executivo pela terceira vez, em fevereiro de 2009, quando da cassação de Cássio Cunha Lima pelo TSE, pautando-se pela austeridade e desenvolvimento, com especial ênfase para o Plano de Águas, dentro do elenco de prioridades urgentes que traçava para a Paraíba. Como parlamentar, Maranhão destacou-se por posições nacionalistas, externadas na própria Assembleia Nacional Constituinte em que atuou como deputado. Mas essa militância aflorou primeiro em mandato na Assembleia Legislativa, quando alinhou-se entre os defensores de ideais patrióticos e combateu o arbítrio instaurado a partir de 1964 com a ditadura militar. Tais posturas lhe valeram a cassação do mandato, que ele enfrentou com estoicismo e combatividade.

No livro “José Maranhão – Uma vida de coerência”, Gonzaga Rodrigues e Ângela Bezerra de Castro destacam que a sua primeira eleição ao Senado, em 2002, foi “a aprovação popular mais inconteste ao governo que José Maranhão acabara de realizar”. Observam, porém, que Maranhão entrou confiante na eleição, apostando na repercussão do seu trabalho administrativo, que surpreendeu os menos informados. Obteve uma maioria (mais de 300 mil votos sobre o segundo colocado) na qual o eleitor deu mostras de aprovação de um período em que ficou evidente a sua intervenção na paisagem paraibana, na vida urbana e rural, tanto no cartão postal de João Pessoa quanto nos pequenos e grandes pontos de água pintados no mapa da Paraíba. “A ação do governo esteve presente no sítio mais recôndito, sem localidades diferenciadas, fosse através dos programas mais ousados, como o Plano das Águas ou os programas de estradas, de saúde, de escolas, ou pelo mais abrangente e menos visível dos programas, o Cooperar, de caráter nitidamente social, que saiu disseminando poços , abastecimentos de água singelos, linhas de energia no campo. Maranhão cumprindo a promessa de apagar o último candeeiro remanescente do atraso”, testemunham Gonzaga e Ângela Bezerra de Castro.

A coerência na sua trajetória foi destacada em depoimentos de inúmeras personalidades, como os ex-presidentes do Senado, José Sarney, e Davi Alcolumbre. Numa das suas intervenções, denunciou que por trás da defesa do meio ambiente por parte dos Estados Unidos havia uma manobra para arrefecer a produção do etanol brasileiro. “O Brasil precisa se debruçar sobre essa questão com mais profundidade. Precisa se livrar de certos estereótipos que vêm de fora, porque, até hoje, essas intervenções externas não nos têm trazido nada de positivo”, advertiu, durante uma sessão presidida pelo senador Cristovam Buarque, que concordou com ele e disse tratar-se de um discurso anti-imperialista que lhe agradava. Maranhão verberou contra os subsídios que, conforme ele, sabotavam a economia brasileira – subsídios para a indústria, para o aço americano, para tudo aquilo que o Brasil pudesse produzir em condições competitivas. “Tudo isso tem sido bloqueado por esses países de forma impiedosa”, prosseguiu. Ao lado do ideário nacionalista, pulsou em Maranhão o defensor permanente da capacitação tecnológica do país em níveis competitivos, propondo investimentos maciços nas universidades, sobretudo, nas pesquisas.

Maranhão foi um dos mais veementes defensores da Transposição do Rio São Francisco, presidiu a Comissão Mista de Orçamento e, também, foi expoente na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federa. Apesar da profícua, incessante mesmo, atividade parlamentar, quer fosse na Câmara, quer no Senado, José Maranhão traía uma vocação especial para o Executivo, materializada no seu desejo de realizar em favor do povo. Saiu consagrado do governo como o “Mestre de Obras”, pela sensibilidade que demonstrou para com os investimentos reclamados e pela luta titânica que travou para carrear investimentos, dobrando resistências de áreas econômicas governamentais em Brasília. Sua altivez fê-lo abandonar, certa vez, uma reunião com influente dirigente de estatal brasileira, por avaliar que não havia, da parte dele, compromissos concretos que favorecessem o Nordeste e, particularmente, a Paraíba. O governador “tríplice coroado” e o parlamentar coerente e assertivo não chegou, propriamente, a deixar herdeiros políticos na cena local. Mas, como explica Sales Gaudêncio, a força do seu idealismo e das suas propostas continua presente, inspirando gerações que tenham compromisso com o desenvolvimento do Estado. Esta era a sua carta de navegação, como ele costumava se referir.

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